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Conceitos Fundamentais da Educação Profissional e Técnica

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A Educação Profissional, também chamada de Educação Profissional e Tecnológica, tem um papel específico na educação e uma importância estratégica para todos os países. Especialmente quando conhecemos os desafios que temos no Brasil, refletidos nas estatísticas educacionais e sociais, extremamente preocupantes quanto à baixa escolaridade da população, às carências de formação profissional e técnica e às grandes diferenças de distribuição de renda. 

A Epistemologia é uma disciplina ou um ramo da filosofia. Esta, por sua vez, é “o amor ao saber”, que orienta modos de ser e de fazer (inseparáveis).

O que identifica a Educação Profissional e a distingue das outras modalidades educacionais é a formação para o trabalho. O trabalho é o que permite ao ser humano a produção da sua existência, não apenas no sentido econômico, mas em todos os aspectos da vida.

Os filósofos já discutiram o que é trabalho há muito tempo, , como o fez Engels em seu famoso texto do século 19:

O trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém, é muito mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem.

Engels 

O que nos interessa aqui é reconhecer que o ser humano não se converteu de homo para homo sapiens apenas, isto é, pela sua relação com o conhecimento (e, mais tarde, à sua racionalidade), mas sua humanização é também, fundamentalmente, fruto de sua passagem de homo para homo faber.

Não só porque passou a fabricar coisas, a fazer coisas como instrumentos e a utilizá-los, mas porque seus saberes, sua consciência, sua cognição e sua relação social se constituíram (e continuam se constituindo) por este fazer (Sigaut, 2012).

A capacidade humana de fazer e intervir no mundo para produzir sua existência chama-se técnica. Entende-se, desta forma, que a técnica deixa de ser um objeto externo ao ser humano e passa a ser uma propriedade sua, uma capacidade, um potencial. Não se confunde com alguns de seus resultados – os produtos da técnica.

Por isso, técnica é “adjetivo” do humano; ela qualifica o ser humano (não é “substantivo”, não é algo separado da humanidade do ser humano). 

As técnicas, como saberes fundamentais e complexos do ser humano, precisam ser descritas, compreendidas em sua estrutura lógica, sistematizadas, organizadas, lembradas, transformadas e muitas vezes inventadas. Para isso, há uma ciência: a Tecnologia (no sentido amplo de estudo sistematizado, compartilhado por uma comunidade de praticantes e pesquisadores). Esta é a concepção de Tecnologia escolhida pelo filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto, mas também por outros autores (Haudricourt, Sigaut, entre outros) – a Tecno-logia (tekhne + logos).

Ensinamentos para a formação:

  • A Tecnologia não é aplicação da ciência. Está equivocada, portanto, a concepção de que basta ensinar ciências, para, em seguida, poder “aplicá-las” nos diversos conjuntos de técnicas;
  • A Tecnologia é uma ciência própria e diferente: a ciência da técnica. Se o pensamento da técnica é independente do da ciência, ele não é menos rigoroso (Mahias, 2013);
  • O objeto de estudo da ciência particular chamada Tecnologia é a técnica;
  • Tecnologia, sendo estudo da Técnica, e a Técnica sendo característica fundamentalmente humana, autores como Haudricourt (ver texto disponível abaixo), mostraram que ela é, antes de mais nada, uma ciência humana;
  • A Tecnologia não pode ignorar que os fatos técnicos não podem ser isolados uns dos outros, pois fazem parte de uma rede que possui lógica própria. E esta lógica só pode ser apreendida em uma perspectiva histórica (Mahias, 2013) 

 Técnica – do grego – τεχνική (lê-se: tecniquê)

Tecnologia – Ciência da técnica – τεχνολογία (Lê-se: tecnologuía).

As técnicas têm características próprias, um desenvolvimento próprio, e envolvem um acúmulo de saberes, uma tradição, nem sempre pertencentes ou reconhecidos nas demais disciplinas científicas.

A tecnologia é vulgarmente entendida como “objeto ou produto” (computador, GPS, software, celular etc.) e procuramos mostrar a concepção epistemológica da Tecnologia, como ciência da técnica. François Sigaut (2011) nos lembra que a palavra tecnologia foi utilizada pela primeira vez no século XIX “para nomear uma ciência (ainda por vir) com o objetivo de analisar ou melhorar as técnicas.

Dependendo do contexto, Epistemologia pode designar:

  • o estudo do conhecimento científico; ou
  • o estudo do conhecimento humano em geral. Trata-se, em ambos os casos, de entender como o conhecimento se constitui, como é validado, quais os seus limites ou como pode ser aprendido.
Epistemologia clássica e educacional

Delacour (2017) propõe uma concepção de saber e conhecimento, fazendo a seguinte distinção: o saber é sempre externo, enquanto o conhecimento é aquilo que passa a fazer parte do aprendiz. Em outras palavras, o estudante pode ter “aprendido” vários saberes sem, contudo, estar em condições de utilizá-los (Boudreault, 2017).

“É o sentido que produz conhecimento e não o contrário”

François Sigaut

Há pelo menos duas concepções mais usuais para competência: atribuição ou capacidade pessoais. Ambas, contudo, se relacionam: uma como resultado; outra como potencial, respectivamente.

Quando nos referimos a um profissional competente, em geral, estamos reconhecendo ser capaz de concluir uma tarefa com proficiência, isto é, satisfazer as necessidades do demandante.

A competência é sempre analisada pelos resultados, isto é, pela observação da atividade finalizada, ou o problema resolvido. Definir alguém como competente significa ter avaliado sua prática e comportamento ao longo de um processo completo.

Compreendendo-se competência como uma capacidade pessoal, três dimensões a compõem:

  • Conhecimentos: conjunto de saberes socialmente consolidados relativos às concepções, definições e conceitos necessários à compreensão e intervenção em fenômenos, situações ou estruturas;
  • Habilidades: compreendidas como modos de saber fazer, ação consciente sobre a realidade, intervenção apropriada visando a resultados eficazes. As habilidades, na maioria das vezes, são as técnicas aplicadas à solução ou encaminhamento de um problema. São compreendidas como capacidade ou atributo do ser humano que as aplica;
  • Atitudes ou valores: conjunto de princípios e normas que orientam o comportamento e as ações dos seres humanos dentro de sua cultura – estratégias de relacionamento, respeito aos demais, obediência às leis, o agir ético. Ou seja, é a aplicação dos princípios de convivência socialmente definidos ou seu aperfeiçoamento de acordo com o senso de justiça que deve ser exercitado na construção de uma competência.

A profissionalização pode significar, então, do ponto de vista de um grupo de profissionais, em primeiro lugar, a busca da autonomia e a definição de uma série de atividades profissionais específicas próprias, negociadas entre grupos sociais e diversas instâncias oficiais. Isso implica também, quando a profissão já foi “reconhecida”, “um processo de formação de indivíduos para os saberes de uma profissão existente”

Profissionalização refere-se, ainda, aos processos de construção de competências, fazeres-saberes profissionais, com componentes técnicos, éticos, estéticos, identitários (e outras dimensões do trabalho já vistas nas aulas) por meio dos quais alguém passa a ser reconhecido como um profissional.

Arco Ocupacional é o grupo de formações associadas entre si pela atividade-fim de seu conjunto, em geral em um mesmo ambiente de trabalho. Representa um leque de atividades, ocupações ou profissões que se complementam para que um ou mais de um conjunto de técnicas possam ser implementadas em direção à elaboração de um mesmo produto ou serviço.

Arco Ocupacional

IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO

  • Isso implica que os docentes da EPT sejam capacitados a ensinar competências, tais como a comunicação, a resolução de conflitos e a abordagem reflexiva (PERRON et al, 2008);
  • Estas competências não se desenvolvem “teoricamente” apenas. É preciso experimentar a colaboração, a resolução de problemas e a reflexão com outros profissionais em ambientes de simulação, de imersão no mundo do trabalho ou de projetos de ensino, pesquisa e extensão;   
  • Na formação e no ambiente de trabalho, a abordagem Interprofissional requer uma prática envolvendo “responsabilidade compartilhada, uma clara repartição das tarefas e um compartilhamento regular da informação” (PERRON et al, 2008, p. 2032);
  • Esta abordagem pode mover toda a organização curricular ou o trabalho em equipe de docentes de diferentes áreas, de diferentes cursos, engajados em ensinar o trabalho tanto em sua importância individual como a sua complexidade e coletividade;
  • Para construir situações de formação interprofissional autênticas, é necessário observar e analisar situações reais de trabalho. 
Interdisciplinaridade Ampla

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