Engana-se quem pensa ser necessário trabalhar com números econômicos — como taxas de juros simples e compostos — para ensinar educação financeira na escola. A professora Suzy Wilik, coordenadora pedagógica do colégio Ciman, em Brasília, garante que seus alunos aprendem o assunto desde o ensino infantil até o nível médio, de forma lúdica, sem o uso da matemática financeira.
“No ensino fundamental, a educação financeira é conduzida nas aulas de ética e cidadania. Nesses encontros, aspectos da formação integral do ser humano, além de desenvolvimentos socioemocionais e de vida em sociedade são trabalhados. A educação financeira, a estabilidade e noções de empreendedorismo entram nessas aulas”, detalha Suzy.
As noções de educação financeira abrangem o cotidiano das famílias. Como exemplo, a coordenadora comenta sobre a formação de consciência no momento de pedir dinheiro ou um brinquedo aos pais. “Enquanto antigamente as crianças pediam dinheiro, hoje pedem para fazer um pix. As aulas de educação financeira no ensino fundamental fomentam na criança a reflexão sobre os gastos da família”, explica. “Não é só quando eu compro algo que gasto dinheiro. Quando eu saio do meu quarto e deixo a luz acesa, eu estou gastando dinheiro”, completa Suzy.
A educação financeira, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), determina que o tema deve ser tratado como transversal. Isso significa que, ao falar de finanças com alunos, deve-se abordar justamente assuntos contemporâneos que tenham relação direta com a sociedade.
Na prática
A execução das ideias expressas pela coordenadora pedagógica do Ciman perpassa as aulas da professora Amanda Paixão. Ao lado de Bento Batista, seu aluno do 1º ano do ensino fundamental 1, ela conta como conversa sobre educação financeira com os pequenos.
“Falamos, por exemplo, sobre os impostos e a importância de cobrar que o governo cumpra seu papel. Afinal, tributos são gastos e esses gastos precisam ser bem geridos pelo poder público”, explica. “A gente paga imposto para ter bons hospitais”, exemplifica Bento, que aprendeu bem a lição.
Entre os alunos do ensino médio, a educação financeira é trabalhada por meio de itinerários formativos. Alunos do 3º ano do Ciman, Claudio Medrado e Lucas França trabalham o tema na perspectiva de refletir suas ações enquanto futuros adultos. “Aprendemos, desde o 1º ano, sobre como gerenciar o nosso dinheiro, tanto hoje quanto daqui a alguns anos, num orçamento familiar. Vemos temas como investimentos, financiamento de veículos”, detalha a dupla.
“Também aprendemos um pouco sobre mercado financeiro. Sabemos que, nessa área, há uma briga de interesses grande. Então, é importante se atentar a isso e saber como enxergar o que seria mais vantajoso economicamente”, completa os amigos.
Necessidade e vontade
No colégio Ciman, segundo a coordenadora Suzy Willy, a problemática do desperdício de comida também é trabalhada com os estudantes nos encontros de ética e cidadania, com foco em educação financeira. “Quando colocamos nossa comida, por que encher o prato se não vamos comer tudo? Mostramos que isso é jogar tanto comida quanto dinheiro fora”, exemplifica.
Nesse raciocínio, Suzy conta que a escola trabalha com os alunos a ideia de que dinheiro pode ser escasso. “O dinheiro é finito, é preciso usá-lo da melhor forma priorizando o que é necessário”, completa.
Diferenças sobre o que é necessário comprar ou o que poderia ser definido como uma “vontade” também são passadas aos alunos do ensino fundamental. Como exemplo, Suzy classifica como “necessidade” a prática de lanchar na escola, mas como “vontade” o desejo de “ter de” comer o alimento mais gostoso.
“Necessidade sou eu (aluno) lanchar no meu horário de intervalo, por exemplo. Agora, vontade seria falar que o meu lanche precisaria ser um croissant de Nutella. Existem coisas que são necessárias e outras, vontades”, compara, ponderando que as “vontades” podem ser feitas, mas com consciência.