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Casa-grande e Senzala

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Casa-grande & senzala, publicado no ano de 1933 e escrito em Portugal. Nele, Freyre rechaça as doutrinas racistas de branqueamento do Brasil. Baseado em Franz Boas, demonstrou que o determinismo racial ou climático não influencia no desenvolvimento de um país.

Ainda, essa obra foi precursora da noção de democracia racial no Brasil, com relações harmônicas interétnicas que mitigariam a influência social do passado da escravidão no Brasil, que, segundo Freyre, fora menos segregadora que a norte-americana.

Embora seja sua obra mais importante, também recebeu críticas por diversos aspectos do livro, como críticas à linguagem da obra, considerada vulgar e obscena e críticas ao que é chamado por parte dos estudiosos de “mito da democracia racial”, que segundo a filósofa Djamila Ribeiro é uma “visão paralisa a prática antirracista, pois romantiza as violências sofridas pela população negra”.

Muito embora Freyre seja considerado o ideólogo da democracia racial, esse conceito não foi abordado diretamente em Casa-grande & senzala. Em Recife, chegou a ter seu livro queimado em praça pública, ato apoiado por um colégio religioso da cidade.

Ao contrário do que popularmente se imagina, Casa-grande & senzala não é um estudo sociológico ou antropológico. Baseado em fontes históricas e suas reflexões, Gilberto Freyre se apresentou como um “escritor treinado em ciências sociais” e não como sociólogo ou antropólogo, como refletiu em seu Como e porque sou e não sou sociólogo (1968). Além disso, por influência de Franz Boas sabia da necessidade de pesquisas empíricas para validar um estudo como sendo sociológico ou antropológico.

Principais ideias de Casa-Grande e Senzala

Os três pilares da colonização portuguesa para Freyre são a miscigenação, o latifúndio e a escravidão.

Miscigenação

Para Gilberto Freyre, a sociedade brasileira era o resultado da miscigenação cultural entre portugueses, indígenas e negros. O colono português chegado ao novo território não rejeitou a mulher indígena, nem a negra, ao contrário do que ocorreu na América anglo-saxônica.

Freyre atribui esta diferença aos relacionamentos inter-raciais do português, acostumado a comercializar com os povos do norte da África, diferente do inglês, que não tinha contato com estas populações.

Freyre, porém, não comenta que estas relações colocavam a mulher numa posição de mais inferioridade, pois os filhos gerados desta união não eram considerados legítimos.

Escravidão

Uma das teses mais polêmicas de Gilberto Freyre foi justificar a escravidão do indígena e, principalmente, do negro como “necessária” para o empreendimento colonial.

No caso brasileiro, porém, parece-nos injusto acusar o português de ter manchado, com instituição que hoje tanto nos repugna, sua obra grandiosa (sic) de colonização tropical. O meio e as circunstâncias exigiriam o escravo… Para alguns publicistas foi um erro enorme (escravizar o negro).

Mas nenhum nos disse até hoje que outro método de suprir as necessidades do trabalho poderia ter adotado o colonizador português no Brasil… Tenhamos a honestidade de reconhecer que só a colonização latifundiária e escravocrata teria sido capaz de resistir aos obstáculos enormes que se levantaram à civilização do Brasil pelo europeu.”

A escravidão fortaleceu a sociedade patriarcal onde o homem branco – o dono da Casa-Grande – era o proprietário de terras, escravos, até mesmo de seus parentes, no sentido que ele governava suas vidas. Desta maneira, cria-se uma sociedade sempre dependente de um senhor poderoso e incapaz de governar a si mesma.

Latifúndio

O latifúndio foi a grande propriedade implantada pelos portugueses a fim de ocupar e explorar a terra. Para Freyre, a opção pela grande propriedade foi questão de um hábito enraizado na cultura portuguesa e não fruto de um planejamento para explorar as novas terras americanas.

Os portugueses que aqui, um tanto à maneira dos Templários em Portugal, tornaram-se grandes latifundistas, por um lado seguiram o exemplo dos cruzados, principalmente o dos freires – capitalistas e proprietários de latifúndios, não raras vezes os bens, os gados e homens das terras reavidas aos infiéis ou tomadas aos moçárabes constituindo seu único capital de instalação (…).

Em contraponto com a colonização inglesa nas Treze Colônias, baseada na pequena propriedade, o latifúndio no Brasil, reforçou o poder patriarcal.

Por outro lado, como a terra tinha dono, isso impediu o surgimento de qualquer iniciativa empreendedora, perpetuando o modelo patriarcal e escravocrata por muito tempo no Brasil.

Giberto Freyre

Gilberto de Mello Freyre (Recife, 15 de março de 1900 — Recife, 18 de julho de 1987) foi um polímata brasileiro. Como escritor, dedicou-se à ensaística da interpretação do Brasil sob ângulos da sociologia, antropologia e história. Foi também autor de ficção, jornalista, poeta e pintor. É considerado um dos mais importantes sociólogos do século XX.

Gilberto Freyre foi o intelectual mais premiado da história do país; laureado com o Prêmio Aspen, honraria que consagra “indivíduos notáveis por contribuições excepcionalmente valiosas para a cultura humana”, e com o prêmio italiano La Madonnina. Dentre outros prêmios e honrarias, recebeu a Ordem do Império Britânico, o Prêmio Jabuti de Literatura, o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio de Excelência Literária da Academia Paulistana de Letras, medalhas de Portugal e da Espanha e a Ordem Nacional da Legião de Honra da França. Sagrou-se ainda imortal da Academia Pernambucana de Letras.

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