A relação com o meio de vivências, de trabalhos, ou ainda, de experimentações, é nomeado de sociointeracionista, teoria concebida por Lev Vigotski.
Lev Vigotski
Lev Seminovich Vigotski nasceu na cidade de Orsha, Bielorussia, no dia 17 de novembro de 1896. Curiosamente, nasceu no mesmo ano em que Jean Piaget. Pertencia a uma família judia, culta, de classe média e estável no que diz respeito ao aspecto econômico.
Em 1917, no ano em que a Revolução Russa estava terminando, Vigotski formava-se em duas Universidades.
Iniciou sua vida profissional trabalhando como formador de professores na escola local do estado, onde obteve a experiência no campo da educação. Ministrava aulas de literatura e psicologia, disciplinas pelas quais mostrou interesse. Fundou o laboratório de psicologia da Escola de Professores de Gomel.
Entre 1924 e 1934, realizou uma intensa e interessante atividade acadêmica e científica (aulas, palestras, pesquisa). Em 1931, mudou-se para a Ucrânia, para criar o Departamento de Psicologia, onde realizou estudos sobre a comparação entre o funcionamento cognitivo dos grupos que apresentam formas culturais tradicionais e grupos que passam por uma situação de mudança cultural acelerada.
O seu percurso acadêmico foi marcado pela interdisciplinaridade, já que transitou por várias áreas: artes, literatura, linguística, antropologia, cultura, ciências sociais, psicologia, filosofia até posteriormente a medicina. O crescente interesse em compreender o desenvolvimento psicológico do ser humano, e, em particular, as anomalias físicas e mentais (relacionadas com a fala e o pensamento), levou a integralizar o curso de Medicina.
Em que consiste a abordagem sociointeracionista?
Para entender o indivíduo, devemos primeiro entender as relações sociais nas e pelas quais ele se desenvolve. A psicologia evolutiva de Vigotski deve ser situada no contexto maior: o da gênese da cultura. Os princípios teóricos de Viygotski seguem três objetivos:
- afastar-se de todo reducionismo e de qualquer forma de idealismo;
- procurar explicar os fenômenos baseando-se no modelo das ciências naturais e não contentar-se com descrições;
- adotar uma perspectiva genética (e dialética) buscando a explicação na história e no desenvolvimento.
Um comportamento só pode ser entendido se forem estudadas suas fases, suas mudanças e suas histórias (estudo do processo, e não do objeto), ou seja, é um processo vivo. Esse autor não considera o processo de aprendizagem como uma sucessão linear de etapas que o aluno deveria passar, e sim como um processo que leva em conta o modo como os seres humanos vão desenvolvendo, os seus conhecimentos do mundo, implicando uma visão mais ampla do fenômeno no qual o meio cultural tem um papel fundamental.
É base na teoria sociointeracionista que consideremos os meios, as histórias de vida, as aprendizagens prévias, para que estas sejam mediadoras de novos processos de aprender. O desenvolvimento pleno do ser humano depende do aprendizado que ele realiza num determinado grupo cultural a partir da interação com outros indivíduos.
Podemos aqui trazer como exemplo o caso das comunidades pesqueiras. Nestas comunidades, existe uma organização social em que cada membro acaba cumprindo o seu papel para que a dinâmica local se estabeleça, seja diretamente aos trabalhos de pescador, marisqueiro.
À medida que vão se estabelecendo na dinâmica e assumindo os papéis a partir da observação-ação (prática), as aprendizagens vão sendo incorporadas à dinâmica; e os processos vão sendo realizados.
As atividades tendem a ser familiares, passando de geração a geração – claro, podemos, sim, ter variações, outras perspectivas, outras vontades – , e o contexto, a cultura ali estabelecida propicia espaços de aprendizagem.
Segundo Vigotski, os grupos culturais funcionam no sentido de produzir adultos que operam psicologicamente de uma maneira particular, de acordo com os modos culturalmente construídos de ordenar o real.
É importante mencionar que a dimensão sociocultural do desenvolvimento humano não se refere apenas a um amplo cenário, um pano de fundo em se desenrola a vida individual.
Quando Vigotski fala em cultura, não está se reportando apenas a fatores abrangentes como o país onde mora, nível socioeconômico, profissão dos seus pais. Está falando, isto sim, do grupo cultural como fornecedor ao indivíduo um ambiente estruturado, cujos elementos são carregados de significados.
Vigotski entendia que a vida do homem não seria possível se fosse estudada somente a partir do cérebro e de suas mãos, sem considerar os instrumentos que surgem da vida social. A vida material do homem está mediatizada por instrumentos, assim como sua atividade psicológica. Para ele, a linguagem é o instrumento mais importante da vida humana.
Desta forma, para poder analisar a contribuição de Vigotski à educação, devemos trabalhar sua obra como uma determinada concepção teórica que nos permite refletir sobre a natureza do ato pedagógico, e das suas possíveis implicações com uma prática pedagógica mais eficiente.
Para explicar o papel das instituições de ensino no processo de desenvolvimento do indivíduo, Vigotski fez uma importante distinção entre os conhecimentos construídos na experiência pessoal (concreta e cotidiana), que ele chamou de conceitos cotidianos ou espontâneos; e aqueles elaborados na sala de aula (adquiridos por meio do ensino sistemático), que chamou de conceitos científicos.
Por outro lado, conceitos cotidianos são aqueles construídos a partir da observação, da manipulação e da vivência direta. Os conceitos científicos são os que se relacionam àqueles eventos não diretamente acessíveis à observação ou à ação imediata; são conhecimentos sistematizados, adquiridos nas interações escolarizadas.
Apesar de diferentes, os dois tipos de conceitos estão intimamente relacionados e se influenciam mutuamente, pois fazem parte de um único processo: o desenvolvimento de formação de conceitos.
Portanto, para Vigotski, se o meio ambiente não desafiar, exigir e estimular o intelecto do sujeito, esse processo poderá se atrasar ou mesmo não se completar. Cabe, portanto, aos educadores ter consciência da relevância de sua prática na formação de conceitos científicos (que requerem um pensamento abstrato), levando em consideração os conhecimentos que aluno já possui (conceitos espontâneos).